Ao chegar em Penedo a partir de 1929, os imigrantes finlandeses encontraram uma realidade muito diferente da Finlândia e até mesmo das expectativas criadas pela propaganda idealista. A vida na colônia, especialmente nos primeiros anos (1929-1942), era marcada por um cotidiano focado no trabalho, na adaptação ao novo ambiente e na tentativa de viver os ideais que os trouxeram até ali.
O dia começava cedo. Após o café da manhã, que consistia em água quente com açúcar mascavo e pão caseiro com gordura de coco, os colonos se reuniam em grupos para receber as ferramentas e as tarefas do dia. O trabalho era predominantemente na lavoura, nas estradas e em construções. Eles tinham muito a aprender, pois o clima, a qualidade da terra, os tipos de cultivo, as pragas, tudo era muito diferente do que conheciam na Finlândia. Originalmente, a base era a agricultura e a pomicultura (frutas).
O trabalho sob o sol tropical era pesado e castigava a pele. As dificuldades financeiras eram uma realidade. Além disso, o aprendizado da língua portuguesa era um grande desafio. As aulas de português, dadas por um holandês, eram consideradas engraçadas pela dificuldade com o idioma. A falta de domínio do português gerava isolamento, pois não havia rádio, revistas, jornais ou variedade de livros que auxiliassem na aprendizagem naquele momento inicial.
Em Penedo, as questões alimentar e de saúde adquiriram um status privilegiado. Havia uma busca por um modo de vida mais saudável nos trópicos, ligado aos ideais do projeto.
O dia a dia não era só labuta. Durante o período noturno, era comum a leitura de livros e revistas trazidos da Finlândia. Em algumas noites, acontecia a "festinha". Eva Hildén descreve esse evento como um encontro coletivo com músicas, palestras e debates. Toivo Uuskallio aproveitava esses momentos para fazer discursos, frequentemente com o intuito de encorajar os imigrantes a permanecerem em Penedo. Aos domingos, o trabalho nas lavouras parava, e o dia era dedicado ao descanso.
A colônia, de 1929 a 1942, simbolizou um projeto marcadamente coletivo liderado por Uuskallio. O cotidiano buscava refletir os princípios utópicos. Um colono relatou a ideia de "trabalho conforme a consciência", onde alguém indisposto poderia fazer menos em um dia, compensando depois, embora na prática isso pudesse levar alguns a trabalhar muito e outros pouco. As expectativas de uma vida com mais facilidade ao ar livre permeavam os discursos. Um jovem colono escreveu entusiasticamente para amigos na Finlândia: "É formidável viver neste país tropical e maravilhoso. Trabalho com gosto. Respiro ar puro, ouço o canto dos pássaros, admiro os minúsculos beija-flores. Sinto-me o mais feliz do mundo! Quando penso que vocês também um dia chegarão aqui, grito de alegria. Nada nos falta". Essa fala reflete os anseios dos imigrantes em estar ao ar livre e o discurso utópico dominante.
Apesar das dificuldades, o cenário tropical de Penedo, com ar puro, canto dos pássaros e beija-flores, era algo que encantava alguns colonos e representava uma das "outras possibilidades de vida" que buscavam. A relação com a natureza era um ponto central na manutenção da identidade finlandesa em Penedo. Apesar das inúmeras decepções e dificuldades, esse cotidiano de trabalho na terra, desafios de adaptação, momentos de convívio e a busca por viver um ideal moldou a experiência dos primeiros finlandeses em Penedo. Era uma vida de esforço e esperança, no embate entre o sonho utópico e a realidade tropical.